12.16.2006


O sentimento de tarde é imaginário. Tal qual as cores, que não apenas decora. Os limites apenas são mais explorados. Os limites do eu! Os riscos da minha face são estrelas que me acariciam as faces. Ridículo, porém inofensivo. Tenho mais que palavras em minha mente, tenho cachos de descobertas. Agora, enquanto está tudo azul, me pretendo ver nos roxos do crepúsculo. Meu consenso é estar discreto, é ser ativo!

Qual é o foco de minha identidade? Minha autobiografia deveria transparecer a insanidade trivial e a imensidão de criatividade. Mas minha angústia precisa, toma conta dos meus desenhos. Mais sensíveis que significantes. Mesmo assim, preciso me mostrar liberta das minhas artimanhas para continuar a transcender nessa vida. E ousar um pouco mais. Adquirir poder com meu retrato. Tenho claro onde estou colocando meus traços, deixo às mostras os limites e marco de vermelho meus outros olhos e meus lábios.

Pare! Preste bastante atenção no que lhe confere estímulo no olhar. Há delicadeza. Apenas na singeleza que te toco sou segura... Antes de jogar as cartas na mesa, um gostinho bem leve de tomates secos frescos com rúcula, azeitado de leve. Arrumo-me com as flores mais cheirosas, maquiagem suave e pronta! Preparada! Que tal um jantar... a dois?

Para antecipar a cordialidade do passo, a tal liberdade cria submundos internos baseados na arquitetura simplista da abstração e da espontaneidade. Uma assiduidade constante a revisita da forma imediatista de visualizar a atmosfera das relações mundanas. O jeito se classifica artificial e culturalmente pela intensidade do mergulho na atmosfera do esperar e do tentar se decifrar. A forma, amistoso entre partes, galanteia o ostracismo. Libera a capacidade de mobilidade. Ao se perceber a intencionalidade dos gestos, sorri arbitrariamente, de forma básica e involuntária. Balbucia alguma coisa, mas não tem mais o que dizer de si, por uma flor na boca e não falar mais nada!

Ela. Tudo que invade a sua catarse. Ela e tudo o mais que quisera ser e que compõe seu ritmo, seu signo, seu eu. Ela, sempre caminho impregnado de cor. Ela luz, bilhete de loteria, flor, vibração. Ela é tão corpo quanto momento. Sentimento de preenchimento. Antes de tudo, ela imita vida, Frida. Ela é diferente, gente. Sim, mais, ela é mulher e toa mulher é uma composição e não se limita, surpreende. E ainda tem coração de flor!

Quando acordei não te vi ao lado. Olhei que não tinha mais roupas pelo chão. Mas juro que não tinha sonhado. Na cozinha tinha ainda restos da pizza gelada, na sala o odor de corpos que se tocam. De volta ao quarto, a cama tinha um gosto agradável. No criado-mudo um cartão e uma mensagem. O li e dei risada, tinha uma promessa ali. A minha pele tinha marcas quando olhei no espelho. Era completa, gostava de batom e cabelos borrados.

Naquele momento, tudo de vime, tudo é crime, tudo se redime ao encontro dos lábios. Naquela hora, tudo se implora, tudo aurora, nada demora e nem pode se limitar. Naquele tempo, vi olhos de maresia, tudo era heresia, completude e agonia e mais coração a acelerar. Naquele instante, foco de sensação, arte de tocar, ambiente e meio! Naquele segundo, depois do descolar os lábios, cores intensas, flores imensas, arte em seqüência e palavras bonitas: Felling, amore, saudade, “amoreux”! Beijo!

Quando me vi arte, impossível sentir outra coisa a não ser desejo de me tocar. Ainda não tinha tido sensação semelhante. Era quase surreal, parecia sonho de menino e arte de moleque que não pode ser descoberta. Nada nesse caminho era inacessível. Pois quando me vi arte, tinha nariz de palhaço, fantasia inscrita nesse corpo. Assim, ao ver reflexos de mim, percebi claramente de onde vinha o desconforto. O ser incompleto. Vou a me pintar por esse papel e, quem sabe, me vi um dia por inteiro e arte.


Rasgou-se. Tinha vontade de gritar, irritar e trazer à tona símbolos do que não deveria cortar. Não estava tão segura, mas tinha tal orgulho que não desistiria tão fácil dos desejos. Machucara-se cada vez mais profundamente. Parto. Estivera estranha naqueles dias e estava mais disposta a se envolver com os espinhos, apesar de ser muito mais do que isso. Quando tudo terminar, volta as cores normais. Volta a ser.